segunda-feira, 16 de abril de 2012

Espanha: de quem é a responsabilidade?

Os mercados estão a penalizar Espanha e os níveis de taxas de juro voltaram nos últimos dias para níveis próximo do insuportável a médio e longo prazo. Vejamos os números do endividamento:

Em 2000, os níveis de endividamento da Espanha, da França e da Alemanha eram semelhantes (ver figura). Durante a maior parte da década, a Espanha reduziu o endividamento publico, enquanto este crescia na Alemanha e na França, 
Em 2007 a Espanha tinha uma divida publica menor que 40% do PIB, contra mais de 60% na Alemanha e na França. De 2007 até 2010 o endividamento publico cresceu quer na Espanha como na Alemanha e na França . Em 2010 era de 60% na Alemanha e cerca de 85% na Alemanha e na França. Ou seja, continuava bem inferior em Espanha. 
Para a Alemanha, o que lá tem acontecido chama-se responsabilidade fiscal. Mas para a Alemanha, e outros países europeus, a Espanha é um caso de irresponsabilidade fiscal. Até um Sarkozy desesperado recorre em campanha eleitoral ao que diz ser o mau exemplo espanhol ... enquanto que a divida publica francesa sempre foi, e é, superior à da Espanha.
Em todo este período o nível de endividamento da Itália (não incluido na figura) esteve sempre acima dos 100% do PIB, e não conheceu qualquer redução significativa (mais do que 10%) ao longo do período em análise.
Krugman comentou esta situação num post, e depois num comentário (NYT), classificando a situação como louca:
  • In a way, it doesn’t really matter how Spain got to this point — but for what it’s worth, the Spanish story bears no resemblance to the morality tales so popular among European officials, especially in Germany. Spain wasn’t fiscally profligate — on the eve of the crisis it had low debt and a budget surplus. Unfortunately, it also had an enormous housing bubble, a bubble made possible in large part by huge loans from German banks to their Spanish counterparts. When the bubble burst, the Spanish economy was left high and dry; Spain’s fiscal problems are a consequence of its depression, not its cause.
  • This is, not to mince words, just insane. Europe has had several years of experience with harsh austerity programs, and the results are exactly what students of history told you would happen: such programs push depressed economies even deeper into depression. And because investors look at the state of a nation’s economy when assessing its ability to repay debt, austerity programs haven’t even worked as a way to reduce borrowing costs.
  • What is the alternative? Well, in the 1930s — an era that modern Europe is starting to replicate in ever more faithful detail — the essential condition for recovery was exit from the gold standard. The equivalent move now would be exit from the euro, and restoration of national currencies. You may say that this is inconceivable, and it would indeed be a hugely disruptive event both economically and politically. But continuing on the present course, imposing ever-harsher austerity on countries that are already suffering Depression-era unemployment, is what’s truly inconceivable.
O problema da bolha imobiliária, que cria problemas à banca privada e parece estar a contaminar a percepção do risco da dívida pública, pode ainda não estar resolvida (ver aqui).
Seguindo um link de Krugman, é interessante ver a exposição da banca de vários países à divida de quatro dos países da UE em dificuldades (Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha):


As responsabilidades de Portugal e da Grécia são coisa pequena comparadas com as da Espanha (e da Irlanda também). Mas a exposição da banca alemã à divida não privada espanhola e irlandesa não é nenhuma brincadeira. A culpa será neste caso um exclusivo do devedor? 

(Itálicos da nossa responsabilidade)

(Atualização: no blog Free Exchange do The Economist, mais sobre o mesmo tema relativo à crise europeia:
  • It is much more about the complex macroeconomics of a suboptimal currency union, and about how Europe as a whole has failed to recognise this challenge in the euro’s first decade.
  • So we have a somewhat paradoxical situation here: Ireland and Spain, while living up to the rules of the Stability and Growth Pact, were not fiscally prudent considering the macroeconomics of a currency union, whereas Germany, by violating the deficit limits, did what good economics would prescribe. (Sadly, it seems to have forgotten this lesson.) 
  • Two conclusions follow: first, the Stability and Growth Pact was utterly inappropriate for such a monetary union; second, this crisis is also about fiscal policy, even in Spain and Ireland. )

Sem comentários: