quinta-feira, 6 de junho de 2013

"Quando não temos o carácter para saber qual o caminho, alguém tem de nos o indicar"

1. Um magnifico deputado do PSD emitiu a sua opinião (ver noticia no Jornal de Negócios, aqui):
 “a análise crítica da coisa pública não pode ser só jurídica, tem que ser de ética, republicana e de bom senso. ... Se existe crime ou não, não sei. Mas quando se falha de forma tão estrondosa, há um caminho, o caminho da rua”.
“Falharam, e quem falha sai. ... Eles têm que sair, já deviam ter saído pelo próprio pé. ... Quando não temos o carácter para saber qual o caminho, alguém tem de nos o indicar”.
E ainda mais, quanto a experimentalismos económicos:
- "Quem perde ... porque decidiu fazer apostas baseados em algoritmos que pareciam o jogo da roleta, há mais que justa causa [para despedimento"
Considerações que se aplicam como uma luva ao atual governo, e que se poderiam mesmo considerar como adequadas á celebração do seu segundo aniversário. Perante o colossal falhanço das políticas e dos algoritmos neoliberais da austeridade, na realidade são afirmações muito certeiras. 

2. No entanto a opinião emitida pelo douto deputado não era sobre o governo da atual maioria, e desconfio que subscrevesse a aplicação dos seus doutos juizos a tal, embora a lógica da sua aplicação seja direta e imediata. Não, referia-se antes ao dito caso dos swaps - um caso que cada vez se mostra mais intrigante, e que cada vez mais assume contornos de obscuros ajustes de contas internos no PSD, entre facções rivais, e de propaganda demagógica do governo para tentar fazer passar uma imagem de "limpeza" e rigor que lhe falta em quase tudo.
Na realidade
- não se percebe, nem se explica, porque é que o caso aparece agora, sendo que era bem conhecido do governo desde a sua posse, e foi olimpicamente ignorado (tendo mesmo o risco potencial mais ou menos duplicado neste últimos dois anos).
- não se percebe, nem se explica, porque é que se fez (ou quer fazer) o resgate dos swaps agora, criando agora uma dívida real (quando na realidade era uma divida potencial), em vez de aguardar pelo seu pedido de resgate pelos bancos (o que parece não ter acontecido)
não se percebe, nem se explica, porque não foram publicados os relatórios de análise que o governo diz existir
não se percebe, nem se explica, porque é que há quem seja demitido e outros não (quer secretários de estado como gestores de empresas publicas)
não se percebe, nem se explica, porque é que os gestores dito terem sido demitidos acabaram por não sair (até agora)
não se percebe, nem se explica, porque é que foram escolhidos para fazer um relatório de avaliação crítica uma "boutique" de um grupo de amigos (das finanças), que tinham estado ligados á difusão dos ditos produtos "tóxicos".
Acresce que parece que o que se conhece das afirmações dos secretários de estado demitidos ainda nos deixa mais perplexos, conhecendo-se a qualidade e a carreira profissional de alguns. A discussão pública deste assunto promete - a ver vamos o que vai ser esclarecido. Incluindo as razões técnicas (ou não) que levaram tantos gestores de empresas públicas a serem tão "estúpidos" e "negligentes" na avaliação de riscos, como nos estão a fazer crer. Estranhamente, quase tudo gente qualificada do PSD. Aqui parece haver gato escondido com o rabo de fora ...