1. O Requiem, de Mozart, será uma das obras emblemáticas da "grande música" e que exige tudo: orquestra, coros e solistas. Como sempre na "grande música", um caso de arte que emerge da grande complexidade das interações entre os intérpretes. Alguns classificaram-na como uma das melodias mais pungente e dramática da história da música.
É também uma obra do período pascal. Talvez Mozart a tenha escrito a pensar na sua própria missa de despedida - é uma obra reflete o eterno drama humano da angústia de ser, da vida e da morte, do sofrimento, da emoção e da esperança, do sentido da tragédia humana e do inescrutável divino. 2. A noite de sexta feira anterior ao Domingo de Ramos é uma data simbólica e apropriada para ouvir uma interpretação integral, ao vivo, desta obra emblemática da grande música e do período pascal.
Centenas de intérpretes ao vivo, mais novos e menos jovens, uma comunidade unida pela música à volta do génio de Mozart. Momentos de arte, momentos etéreos de simbolismo partilhados entre os intérpretes e a audiência: a procura por um sentido comum na obra de arte criada por Mozart (e, neste caso, talvez até talvez por mais alguns).
3. Os números impressionam: mais de 200 elementos do coro, masculino e feminino; uma orquestra com várias dezenas de músicos (cerca de 40); quatro intérpretes do canto clássico. Uma produção exigente, com um fundo visual em geral bem conseguido. Foi a 7 de abril de 2017 na cidade de Viana do Castelo, no espaço polivalente do centro cultural da cidade (desenhado por Sisa Vieira) completamente cheio.
É preciso ter ambição (e competência) para arriscar num espectáculo desta dimensão. Não estará ao alcance de todos. Mas foi um sucesso conseguido pelo coro da Academia de Música de Viana do Castelo e pela orquestra da Escola Profissional de Música de Viana do Castelo - um sucesso que diz muito das dinâmicas territoriais contemporâneas.
É com emoção que se assiste à performance de uma orquestra de jovens músicos locais, alunos do ensino secundário, com 15, 16 ou 17 anos, a interpretar uma obra destas. Como alguém insistia em recordar, "jovens do campo, filhos das aldeias". Também esperança da música portuguesa, acrescentaria eu. Alguns continuarão estudos pós secundários algures pela Europa, para onde já tiveram a ousadia de concorrer.
4. Não se pode ficar indiferente ao papel que as escolas profissionais de musica têm tido, especialmente em territórios mais periféricos (ou menos centrais). A vitalidade da Academia de Música e a qualidade da Escola Profissional não são obra do acaso em Viana do Castelo.
Como noutros sítios - e estou a recordar-me pelo menos da Esproarte Escola Profissional de Arte de Mirandela - refletem novas massas críticas e interesses na área cultural, assim como lideranças locais capazes de criar novos contextos do mundo da vida e da arte para além dos grandes centros urbanos, iniciativas capazes de integrarem jovens talentos e públicos locais, porventura de faixas sociais de acesso tradicionalmente mais difícil. O que, por sua vez, diz muito das transformações sociais nos territórios das periferias.
5. A ligações entre o ensino secundário profissional e o ensino superior politécnico merece aqui uma nota sobre a sua complementaridade e recorda as oportunidades para promover a cooperação entre ambos ao nível territorial, criando regiões com mais conhecimento, com mais arte, mas acima de tudo regiões onde o futuro profissional de jovens músicos pode ser assegurado com cada vez mais sucesso.
Não será por acaso que na folha informativa do espetáculo (ver aqui) aparecem várias referências a escolas superiores politécnicas, em especial à ESMAE Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo do IPP Instituto Politécnico do Porto, na construção das carreiras internacionais de alguns dos principais intérpretes da sessão em Viana do Castelo.
O ensino superior politécnico das artes performativas é um caso exemplar de como os politécnicos podem e conseguem preparar melhor do que ninguém jovens artistas para os mercados profissionais exigentes e competitivos e capazes de sucesso internacional. O ensino da música, clássica ou moderna, e as múltiplas vertentes das artes performativas é uma área por excelência de aprendizagem "fazendo e treinando", aprendendo com a prática e a experiência, misturando abordagens diferentes centradas no sucesso de cada estudante. Aquilo que deve ser o moderno paradigma do ensino superior politécnico.
6. Ouvir uma boa interpretação de um clássico exigente da "grande música" executada por artistas da região (alguns já com carreiras internacionais) num centro cultural moderno, desenhado por um dos grandes arquitetos contemporâneos, e cheio de público interessado, tudo integrado numa produção eficiente e bem sucedida, será sempre de assinalar em qualquer sítio. Quando isso acontece num dos cantos de Portugal, então isso diz-nos muito sobre o Portugal "pós moderno" (*) e justifica uma esperança renovada no futuro das regiões.
(*) Uso aqui o termo com uma óbvia condescendência. Mas recordo um texto que li há uns anos num jornal nacional de referência, escrito por uma socióloga lisboeta conhecida que, depois de uma viagem rápida "à província", escreveu um texto sobre o Minho que ela chamou "pós moderno". Ainda não esqueci o desagrado que a sua leitura me deixou. Nessa precisa altura era no Minho (incluindo Viana do Castelo) que se realizaram durante vários anos iniciativas de animação tecnológica de massas que, mais de uma década depois, ninguém foi capaz de replicar com a mesma dimensão, complexidade e impacto.
5. A ligações entre o ensino secundário profissional e o ensino superior politécnico merece aqui uma nota sobre a sua complementaridade e recorda as oportunidades para promover a cooperação entre ambos ao nível territorial, criando regiões com mais conhecimento, com mais arte, mas acima de tudo regiões onde o futuro profissional de jovens músicos pode ser assegurado com cada vez mais sucesso.
Não será por acaso que na folha informativa do espetáculo (ver aqui) aparecem várias referências a escolas superiores politécnicas, em especial à ESMAE Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo do IPP Instituto Politécnico do Porto, na construção das carreiras internacionais de alguns dos principais intérpretes da sessão em Viana do Castelo.
O ensino superior politécnico das artes performativas é um caso exemplar de como os politécnicos podem e conseguem preparar melhor do que ninguém jovens artistas para os mercados profissionais exigentes e competitivos e capazes de sucesso internacional. O ensino da música, clássica ou moderna, e as múltiplas vertentes das artes performativas é uma área por excelência de aprendizagem "fazendo e treinando", aprendendo com a prática e a experiência, misturando abordagens diferentes centradas no sucesso de cada estudante. Aquilo que deve ser o moderno paradigma do ensino superior politécnico.
6. Ouvir uma boa interpretação de um clássico exigente da "grande música" executada por artistas da região (alguns já com carreiras internacionais) num centro cultural moderno, desenhado por um dos grandes arquitetos contemporâneos, e cheio de público interessado, tudo integrado numa produção eficiente e bem sucedida, será sempre de assinalar em qualquer sítio. Quando isso acontece num dos cantos de Portugal, então isso diz-nos muito sobre o Portugal "pós moderno" (*) e justifica uma esperança renovada no futuro das regiões.
(*) Uso aqui o termo com uma óbvia condescendência. Mas recordo um texto que li há uns anos num jornal nacional de referência, escrito por uma socióloga lisboeta conhecida que, depois de uma viagem rápida "à província", escreveu um texto sobre o Minho que ela chamou "pós moderno". Ainda não esqueci o desagrado que a sua leitura me deixou. Nessa precisa altura era no Minho (incluindo Viana do Castelo) que se realizaram durante vários anos iniciativas de animação tecnológica de massas que, mais de uma década depois, ninguém foi capaz de replicar com a mesma dimensão, complexidade e impacto.