sábado, 2 de agosto de 2014

BES: um colapso e um desastre "colossais"

1. Quando Vitor Bento e os outros novos dirigentes entraram para a gestão do BES como administradores cooptados (logo não eleitos pelos acionistas em Assembleia Geral), pela mão e inspiração do regulador, as ações do BES estavam cotadas a cerca de 0.45 euros. Quando escrevo isto, as acções do BES estão a transaccionar próximo dos 0.1 euros. Uma quebra brutal de mais de 75% em menos de um mês de gestão. Um colapso "colossal" e espantoso, em especial quando comparado com as evoluções de outros bancos cotados no mesmo período.


Pode-se argumentar que entretanto "apareceram" milhares de milhões de euros de dívida desconhecida e que isso justifica o desastre. Em parte é verdade - mas porventura menos do se pretende fazer crer. O mercado de capitais vive de expectativas futuras, e uma parte do risco do aparecimento desses buracos "colossais" já estava a ser antecipado pelo mercado.
O que está acontecer significa também que os mercados, uma vez mais, não dão cinco tostões nem pela capacidade da gestão de Vitor Bento & Cª para repor valor ao banco, nem pela capacidade do Banco de Portugal para rapidamente limpar a casa.
O resultado parece ser ter que meter dinheiros públicos no BES, porventura com uma cosmética contorcida que permita poder dizer que afinal não é uma privatização. Não me repugna uma nacionalização nas condições em que estamos. Mas que seja um governo de neo liberais, adversários jurados da intervenção do Estado na sociedade, que agora o tenha que fazer, ao revés de tudo o que tinha antes afirmado, diz bem da trapalhada e da falta de coerência deste governo.

2. O WSJ (aqui) diz-nos o que pensam os mercados, mesmo ainda antes do último colapso bolsista do BES:
  • "After saying for a while now that BES has sufficient capital, yesterday the Bank of Portugal said that a capital increase was necessary," Deutsche Bank strategist Jim Reid said.
  • Daragh Quinn, an analyst at Nomura International PLC who still has a buy rating on the bank, wrote in a note to clients that while the losses in BES aren't unprecedented "given the experience of some banks during the recent financial crisis, the manner in which they have been incurred seems unique. Until the details of the capital plan are clear, we don't have enough visibility on the investment case," he added in a note to clients earlier Thursday.
  • The cost of insuring BES debt against default also jumped. It now costs $590,000 a year to insure $10 million of BES debt for five years, $166,000 more than Wednesday's close, according to Markit.

3. Os casos de clientes BES que não estão a receber pontualmente os juros, ou mesmo o capital, devido por aplicações em produtos vendidos nos balcões do GES Alguns casos divulgados pelos media são mesmo muito preocupantes.
Afinal parece que as aplicações dos clientes do BES podem não estar seguras - mesmo tendo o banco criado provisões que teoricamente garantiam a sua satisfação, e depois de toda a gente, do Banco de Portugal ao Presidente da República, o terem andado a prometer. Não me admiraria muito se isto despoletasse uma corrida aos depósitos - um cenário que, a concretizar-se, seria alarmante e de consequências sistémicas.
As desculpas esfarrapadas da administração do Banco, atirando as responsabilidades para o Banco de Portugal, parecem patéticas. E levantam questões éticas gritantes sobre o comportamento empresarial do Banco e da sua administração. Como é que isso se conjuga com as tais preocupações éticas das atividades empresariais, que Vitor Bento alardeava defender acerrimamente? Claro que não se conjuga.

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