- em primeiro lugar, porque é mais um contributo para aumentar o atraso português - se até aqui Portugal estava atrasado mais de vinte cinco anos em matérias de transporte ferroviário de alta velocidade (pessoas e mercadorias) dentro da rede europeias, agora passa a estar pelo menos trinta e cinco anos. Num país periférico sob o ponto de vista geográfico, a importância das ligações ao centro da Europa por ferrovia de alta velocidade é ainda maior do que para os países do próprio centro da Europa. O arranque do troço previsto era uma ultima esperança de que, apesar de tudo, se poderia manter a esperança de que o processo ia começar a andar, mesmo que devagar.
- em segundo lugar, porque é mais um contributo negativo para as finanças públicas. Os jornais falam em qualquer coisa como 300 milhões de euros de indemnização ao consórcio lesado. Despesa sem qualquer contrapartida para a sociedade - disto nada fica de investimento duravel. E ninguém espere que o consórcio deixe de reclamar os seus direitos.
- em terceiro lugar porque se perde uma obra pública cuja execução teria manifestas reprecursões positivas (emprego, ...) na economia atual. Sim, porque não é com o colapso do investimento público que se incentiva a economia - mais do que uma questão académica de economistas de água doce versus economistas de águas salgadas, é a construção de um futuro melhor que está em causa. Não é criminoso criar divida pública (é assim que os países se desenvolvem) para as gerações seguintes, o que é criminoso é não lhes deixar uma infraestrutura de transportes competitiva e melhor do que a que se encontrou. Recordo umas considerações de Krugman há poucos dias:
- When a family tightens its belt it doesn’t put itself out of a job. When a government tightens its belt in a depressed economy, it puts lots of people out of jobs; and this is a negative even from the government’s own, narrowly fiscal point of view, since a shrinking economy means less revenue.
- For the results of austerity policies in Europe have been as good a test as you ever get in macroeconomics, and without exception big cuts in government spending have been followed by big declines in GDP.
Seria bom que se recordasse o efeito devastador que teve a crise financeira da ultima década do século XIX sobre o desenvolvimento da rede ferroviária em Portugal e, de uma forma geral, sobre o desenvolvimento português. As mazelas das suas consequencias continuam hoje, mais de cem anos depois, bem visiveis. E entretanto gerações de portugueses têm tido uma vida mais difícil porque Portugal nunca construiu uma rede ferroviária decente. Com o abandono do TGV só se está a agravar isso, sendo que é óbvio que mais cedo ou mais tarde o projeto terá que ser retomado, uma vez mais atrasado. E a especificidade do investimento ferroviário não ajuda.
Atualização, 18 de setembro 2012: Não só ficamos sem TGV, e sem o seu efeito positivo como estimulo à economia durante a construção e depois na operação, como ainda vamos pagar uma conta choruda. Tal como em Foz Coa (com a EDP), a suspensão, por razões de conjuntura política, de obras adjudicadas acabam em fabulosos negócios para as empresas contratantes, a quem verdadeiramente saiu inesperadamente o euromilhões ...
Ver noticia no J. Negócios online, aqui.
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