1. Apesar do spin que o governo procura fazer nos media, a verdade é que o desfecho do processo de privatização da TAP é um fiasco e uma trapalhada. A realidade foi mais forte que o voluntarismo de privatizar "custe o que custar" a contraciclo da conjuntura.
Um fiasco porque não conseguiu vender a empresa, apesar das expectativas anteriormente criadas.
Uma trapalhada porque se fica com a sensação que o governo tentou evitar o falhanço da operação a dois tempos: num primeiro tempo agarrando-se á única proposta que tinha para mostrar que a operação não era um fiasco, e agora num segundo tempo, e perante a pressão de alguma opinião pública, tira o tapete ao grupo colombiano, na realidade com medo de assumir as responsabilidades de entregar a empresa ao candidato comprador e do que poderia acontecer, quer sob o ponto de vista financeiro como, acima de tudo, empresarial.
(Se o que candidato comprador está a dizer a verdade, o argumento anunciado de falta de garantias, etc, parece uma trapalhada dentro da trapalhada - espera-se que isso se esclareça).
2. Com esta decisão, o governo ficou com uma batata muito quente nas mãos. Já se percebeu que assegurar o funcionamento da empresa nos próximos meses vai exigir recursos financeiros significativos e degradar o valor da empresa.
3. Muito do discurso contra a privatização da TAP é pura treta e justifica-se por puras razões ideológicas e de oportunismo político. A empresa é tudo menos uma "jóia da coroa" ou um "recurso estratégico" do país. Na realidade é (e será) uma colossal máquina de queimar dinheiro, com brutais necessidades de investimento a curto prazo e grandes buracos previsíveis nas próximas contas de resultados.
A ideia que Portugal precisa de uma empresa de bandeira é muito difícil de aceitar. Veja-se o caso da Ibéria (em Espanha). A vulnerabilidade das empresas de bandeira à negociação sindical é mais do que óbvia.
Turismo? As low cost são hoje em dia muito mais importantes para isso do que a TAP. Brasil e PALOPs? Haja movimento rentável (e há) e não deixará de existir oferta - porventura até com melhores preços para os consumidores.
4. A verdade é que infelizmente a TAP vale muito pouco - ou nada. Essa é a lamentável realidade.
Não deixa de ser sintomática a falta de interesse do mercado pela operação. O governo precisa de rápidamente voltar ao processo de venda - ou corre o risco da batata quente lhe rebentar nas mãos e ver-se mesmo na situação delicada de poder ter que vir a liquidar a empresa.
5. A solução mais interessante é que a TAP fosse parar ás mãos de um bom operador, que trouxesse investimento e acima de tudo qualificação para as operações da empresa. Digamos que uma Lufthansa ou semelhante seria uma solução desse tipo. Este argumento (recursos financeiros, "expertise" e lideres na tecnologia, com conhecimento avançado no setor) foi muitas vezes invocado (e bem) por este governo, no seu inicio, para justificar o seu programa agressivo de privatizações - mas progressivamente foi esquecendo a cartilha á medida que ia privatizando como conseguia sem conseguir aqueles objetivos.
6. Infelizmente há uma coisa que anos e anos a viajar me ensinaram: a anedota de "take another plane" tinha, e continua a ter, infelizmente, muito de verdade.
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