1. O ministro da defesa não foi visitar os tropas em missão fora de Portugal, quebrando uma tradição. É claro que isso é um incómodo e uma chatice, ainda por cima numa altura em que há tanta coisa natalícia (incluindo as prendas) a tratar por cá.
A desculpa pública dada para isso é um insulto ás tropas e aos portugueses: poupar o dinheiro da viagem. Se fosse verdade que já não há dinheiro para uma viagem de soberania nestas circunstancias, então já não existe país ... E nesse caso poupar-se-ia mais se não se mantivessem tropas no exterior - naquilo que é um dos mais importantes e bem sucedidas atividades das forças armadas portuguesas. Se não há dinheiro para se visitar esses homens e essas mulheres - como se compreende que haja dinheiro para todas as outras viagens do poder?
Na realidade o problema é outro: um governo que não viaja (especialmente para Bruxelas e outras capitais europeias) porque parece não saber como o fazer.
Este ministro já nos tinha sugerido a "fotografia do ano" (ver aqui). Agora esta é sem dúvida a "não viagem do ano".
2. O prmeiro ministro disse no facebook aquilo que não teve coragem para dizer no discurso oficial: "Este não foi o Natal que merecíamos". Espantosa admissão de culpa - mas sem pedido de desculpas.
Recordo que foi este (candidato a primeiro ministro) que pedíu desculpas por apoiar no parlamento umas medidas do anterior governo que eram uma brincadeira comparadas com o que está a acontecer, e desta vez ainda por cima da responsabilidade dos seus próprios erros de governação.
Este é o primeiro ministro que está a dar cabo dos pequenos empresários da restauração com a subida do IVA - mas que lutou denodadamente por não aumentar o IVA do leite achocolatado, antes e agora.
3. Uma bela história de Natal na SIC: a familia Pereira, 3 jovens músicos e a familia simples e modesta que os lançou do extremo norte de Lanhelas para os grandes centros e orquestras de musica portuguesas, em Lisboa. Uma história exemplar de "upward mobility" com talento e com muitos sacrificios.
Quando se compara esta história com a ascensão profissional e política do primeiro ministro e de outros colegas do governo, sente-se uma perturbante emoção.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
BES, Akoya e o radioso sol angolano (mas não só)
Afinal de contas, que confiança é que se pode depositar em Ricardo Espírito Santo e no seu banco (BES) e no seu grupo empresarial?
Ao longo das últimas décadas tem sido o "banqueiro do regime" e dos vários governos, fossem quais fossem as suas cores. Hábil em flutuar no mundo agitado das águas da política, foi sempre flutuando e com isso arrecadando magnificos negócios na área pública ou para-pública. Sempre com a mais respeitosa e respeitável aparência de senador.
Mas as ultimas notícias são verdadeiramente alarmantes. O BES já tinha estado envolvido anteriormente em muitos casos dúbios na área para pública (lembram-se daqueles tais sobreiros?, por exemplo). Mas agora está bem claro que
- o banqueiro depositou ilegalmente capitais no estrangeiro, que agora repatriou e de que pagou as multas e coimas que foram precisas para se livrar de ações penais (ver aqui, noticia do Expresso on line). Isso só foi conhecido em consequência das investigações sobre a Akoya e o banqueiro apenas retrocedeu em face de ter sido aberta a investigação do caso Monte Branco. Falta saber quantos mais casos é que o banco, ou porventura uma pouca conhecida sociedade de consultadoria do grupo, ajudou a expatriar ilegalmente capitais através da mesma sociedade suíça com quem afinal parece que as ligações do BES & Cª são muito mais profundas e eloquentes do que se conhecia.
- o envolvimento da Akoya e do BES com esse tal "empresário angolano" Madaleno, Familia & Ca, através do Sol (e da Cofina) é agora manifesto e público (ver aqui, notícia do Púbico on line), assim como é público o interesse dessas entidades sobre a dita privatização da RTP, "the next big thing" em negócios á custa do erário público - ou seja, o banqueiro tem trabalhado bem e adubado cuidadosamente o terreno para mais um grande negócio para-publico á custa do poder da altura (será que sem contrapartidas?).
Esta última noticia no fundo mostra uma relação clara (porventura menos direta mas não menos eloquente) entre o grupo ES e os tais suiços da Akoya, através desses Madalenos, pontas de lança do BES em Angola.
Que um dos banqueiros mais importantes do país esteja assim "atascado" neste mar de lama (não) é surpreendente, mas seguramente é arrepiante.
Uma pergunta óbvia: pode uma pessoa nessas circunstancias continuar a ter licença do Banco de Portugal quanto a idoneidade pessoal para gerir um banco - ainda por cima um dos mais importantes do país?
É manifesta o cuidado e a reserva com que alguma comunicação social evita falar destes casos. Porquê?
Ao longo das últimas décadas tem sido o "banqueiro do regime" e dos vários governos, fossem quais fossem as suas cores. Hábil em flutuar no mundo agitado das águas da política, foi sempre flutuando e com isso arrecadando magnificos negócios na área pública ou para-pública. Sempre com a mais respeitosa e respeitável aparência de senador.
Mas as ultimas notícias são verdadeiramente alarmantes. O BES já tinha estado envolvido anteriormente em muitos casos dúbios na área para pública (lembram-se daqueles tais sobreiros?, por exemplo). Mas agora está bem claro que
- o banqueiro depositou ilegalmente capitais no estrangeiro, que agora repatriou e de que pagou as multas e coimas que foram precisas para se livrar de ações penais (ver aqui, noticia do Expresso on line). Isso só foi conhecido em consequência das investigações sobre a Akoya e o banqueiro apenas retrocedeu em face de ter sido aberta a investigação do caso Monte Branco. Falta saber quantos mais casos é que o banco, ou porventura uma pouca conhecida sociedade de consultadoria do grupo, ajudou a expatriar ilegalmente capitais através da mesma sociedade suíça com quem afinal parece que as ligações do BES & Cª são muito mais profundas e eloquentes do que se conhecia.
- o envolvimento da Akoya e do BES com esse tal "empresário angolano" Madaleno, Familia & Ca, através do Sol (e da Cofina) é agora manifesto e público (ver aqui, notícia do Púbico on line), assim como é público o interesse dessas entidades sobre a dita privatização da RTP, "the next big thing" em negócios á custa do erário público - ou seja, o banqueiro tem trabalhado bem e adubado cuidadosamente o terreno para mais um grande negócio para-publico á custa do poder da altura (será que sem contrapartidas?).
Esta última noticia no fundo mostra uma relação clara (porventura menos direta mas não menos eloquente) entre o grupo ES e os tais suiços da Akoya, através desses Madalenos, pontas de lança do BES em Angola.
Que um dos banqueiros mais importantes do país esteja assim "atascado" neste mar de lama (não) é surpreendente, mas seguramente é arrepiante.
Uma pergunta óbvia: pode uma pessoa nessas circunstancias continuar a ter licença do Banco de Portugal quanto a idoneidade pessoal para gerir um banco - ainda por cima um dos mais importantes do país?
É manifesta o cuidado e a reserva com que alguma comunicação social evita falar destes casos. Porquê?
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
TAP: um grande problema
1. Apesar do spin que o governo procura fazer nos media, a verdade é que o desfecho do processo de privatização da TAP é um fiasco e uma trapalhada. A realidade foi mais forte que o voluntarismo de privatizar "custe o que custar" a contraciclo da conjuntura.
Um fiasco porque não conseguiu vender a empresa, apesar das expectativas anteriormente criadas.
Uma trapalhada porque se fica com a sensação que o governo tentou evitar o falhanço da operação a dois tempos: num primeiro tempo agarrando-se á única proposta que tinha para mostrar que a operação não era um fiasco, e agora num segundo tempo, e perante a pressão de alguma opinião pública, tira o tapete ao grupo colombiano, na realidade com medo de assumir as responsabilidades de entregar a empresa ao candidato comprador e do que poderia acontecer, quer sob o ponto de vista financeiro como, acima de tudo, empresarial.
(Se o que candidato comprador está a dizer a verdade, o argumento anunciado de falta de garantias, etc, parece uma trapalhada dentro da trapalhada - espera-se que isso se esclareça).
2. Com esta decisão, o governo ficou com uma batata muito quente nas mãos. Já se percebeu que assegurar o funcionamento da empresa nos próximos meses vai exigir recursos financeiros significativos e degradar o valor da empresa.
3. Muito do discurso contra a privatização da TAP é pura treta e justifica-se por puras razões ideológicas e de oportunismo político. A empresa é tudo menos uma "jóia da coroa" ou um "recurso estratégico" do país. Na realidade é (e será) uma colossal máquina de queimar dinheiro, com brutais necessidades de investimento a curto prazo e grandes buracos previsíveis nas próximas contas de resultados.
A ideia que Portugal precisa de uma empresa de bandeira é muito difícil de aceitar. Veja-se o caso da Ibéria (em Espanha). A vulnerabilidade das empresas de bandeira à negociação sindical é mais do que óbvia.
Turismo? As low cost são hoje em dia muito mais importantes para isso do que a TAP. Brasil e PALOPs? Haja movimento rentável (e há) e não deixará de existir oferta - porventura até com melhores preços para os consumidores.
4. A verdade é que infelizmente a TAP vale muito pouco - ou nada. Essa é a lamentável realidade.
Não deixa de ser sintomática a falta de interesse do mercado pela operação. O governo precisa de rápidamente voltar ao processo de venda - ou corre o risco da batata quente lhe rebentar nas mãos e ver-se mesmo na situação delicada de poder ter que vir a liquidar a empresa.
5. A solução mais interessante é que a TAP fosse parar ás mãos de um bom operador, que trouxesse investimento e acima de tudo qualificação para as operações da empresa. Digamos que uma Lufthansa ou semelhante seria uma solução desse tipo. Este argumento (recursos financeiros, "expertise" e lideres na tecnologia, com conhecimento avançado no setor) foi muitas vezes invocado (e bem) por este governo, no seu inicio, para justificar o seu programa agressivo de privatizações - mas progressivamente foi esquecendo a cartilha á medida que ia privatizando como conseguia sem conseguir aqueles objetivos.
6. Infelizmente há uma coisa que anos e anos a viajar me ensinaram: a anedota de "take another plane" tinha, e continua a ter, infelizmente, muito de verdade.
Um fiasco porque não conseguiu vender a empresa, apesar das expectativas anteriormente criadas.
Uma trapalhada porque se fica com a sensação que o governo tentou evitar o falhanço da operação a dois tempos: num primeiro tempo agarrando-se á única proposta que tinha para mostrar que a operação não era um fiasco, e agora num segundo tempo, e perante a pressão de alguma opinião pública, tira o tapete ao grupo colombiano, na realidade com medo de assumir as responsabilidades de entregar a empresa ao candidato comprador e do que poderia acontecer, quer sob o ponto de vista financeiro como, acima de tudo, empresarial.
(Se o que candidato comprador está a dizer a verdade, o argumento anunciado de falta de garantias, etc, parece uma trapalhada dentro da trapalhada - espera-se que isso se esclareça).
2. Com esta decisão, o governo ficou com uma batata muito quente nas mãos. Já se percebeu que assegurar o funcionamento da empresa nos próximos meses vai exigir recursos financeiros significativos e degradar o valor da empresa.
3. Muito do discurso contra a privatização da TAP é pura treta e justifica-se por puras razões ideológicas e de oportunismo político. A empresa é tudo menos uma "jóia da coroa" ou um "recurso estratégico" do país. Na realidade é (e será) uma colossal máquina de queimar dinheiro, com brutais necessidades de investimento a curto prazo e grandes buracos previsíveis nas próximas contas de resultados.
A ideia que Portugal precisa de uma empresa de bandeira é muito difícil de aceitar. Veja-se o caso da Ibéria (em Espanha). A vulnerabilidade das empresas de bandeira à negociação sindical é mais do que óbvia.
Turismo? As low cost são hoje em dia muito mais importantes para isso do que a TAP. Brasil e PALOPs? Haja movimento rentável (e há) e não deixará de existir oferta - porventura até com melhores preços para os consumidores.
4. A verdade é que infelizmente a TAP vale muito pouco - ou nada. Essa é a lamentável realidade.
Não deixa de ser sintomática a falta de interesse do mercado pela operação. O governo precisa de rápidamente voltar ao processo de venda - ou corre o risco da batata quente lhe rebentar nas mãos e ver-se mesmo na situação delicada de poder ter que vir a liquidar a empresa.
5. A solução mais interessante é que a TAP fosse parar ás mãos de um bom operador, que trouxesse investimento e acima de tudo qualificação para as operações da empresa. Digamos que uma Lufthansa ou semelhante seria uma solução desse tipo. Este argumento (recursos financeiros, "expertise" e lideres na tecnologia, com conhecimento avançado no setor) foi muitas vezes invocado (e bem) por este governo, no seu inicio, para justificar o seu programa agressivo de privatizações - mas progressivamente foi esquecendo a cartilha á medida que ia privatizando como conseguia sem conseguir aqueles objetivos.
6. Infelizmente há uma coisa que anos e anos a viajar me ensinaram: a anedota de "take another plane" tinha, e continua a ter, infelizmente, muito de verdade.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Ministro Gaspar vs. estado social
O ministro Gaspar diz (uma vez mais) que “Não é possível financiar funções do Estado que a sociedade não está disposta a pagar” (ver aqui).
Certamente que há limites para tudo e o orçamento de estado não é um poço sem fundo. Essa não é a questão.
Mas parece haver um consenso na sociedade portuguesa: os portugueses querem o estado social que andam a construir á décadas, mesmo compreendendo que há limites - o dinheiro em condições normais pode chegar para as prestações sociais, se não existir o desemprego atual, se a reestruturação dos custos do estado for feita e acima de tudo se a economia não estiver no continuado clima recessivo em que se encontra.
A questão é outra: os portugueses não aceitam uma economia como ela está e não podem aceitar que o dimensionamento do estado social seja feito em referencia a esta situação anómala.
Não são os portugueses que querem demais do estado. O ministro é que não é capaz de responder aos desafios da sociedade.
Os erros de Gaspar & Ca. já levaram o país a uma espiral deflacionária e a uma colossal carga fiscal, que ele próprio considera insuportável. Mas em vez de fazer aquilo que se espera dele - lutar por pôr a economia a crescer - limita-se a chorar e a atirar a culpa para os portugueses que não lhe equillibraram as contas como o modelo previa.
Não é na situação depressiva e calamitosa da economia portuguesa (em parte da responsabilidade das políticas governamentais no ultimo ano) e da política europeia na zona euro (responsabilidade coletiva dos países europeus, especialmente dos países liderantes) que se pode discutir o modelo social do estado, algo que é para décadas e não para amanhã e depois.
As farpas que o ministro gosta de lançar aos portugueses, e que disso parece fazer gala, não são "dizer a verdade". São antes uma confissão pública da incapacidade técnica e política deste ministro.
Circula por aí uma história: este ano não há presépio. Vieram dois reis magos (Balatzar e Melchior) que construíram o presépio. Depois veio o terceiro - Gaspar - que levou tudo, e ficamos sem presépio.
Parece que é isso que está a acontecer.
Certamente que há limites para tudo e o orçamento de estado não é um poço sem fundo. Essa não é a questão.
Mas parece haver um consenso na sociedade portuguesa: os portugueses querem o estado social que andam a construir á décadas, mesmo compreendendo que há limites - o dinheiro em condições normais pode chegar para as prestações sociais, se não existir o desemprego atual, se a reestruturação dos custos do estado for feita e acima de tudo se a economia não estiver no continuado clima recessivo em que se encontra.
A questão é outra: os portugueses não aceitam uma economia como ela está e não podem aceitar que o dimensionamento do estado social seja feito em referencia a esta situação anómala.
Não são os portugueses que querem demais do estado. O ministro é que não é capaz de responder aos desafios da sociedade.
Os erros de Gaspar & Ca. já levaram o país a uma espiral deflacionária e a uma colossal carga fiscal, que ele próprio considera insuportável. Mas em vez de fazer aquilo que se espera dele - lutar por pôr a economia a crescer - limita-se a chorar e a atirar a culpa para os portugueses que não lhe equillibraram as contas como o modelo previa.
Não é na situação depressiva e calamitosa da economia portuguesa (em parte da responsabilidade das políticas governamentais no ultimo ano) e da política europeia na zona euro (responsabilidade coletiva dos países europeus, especialmente dos países liderantes) que se pode discutir o modelo social do estado, algo que é para décadas e não para amanhã e depois.
As farpas que o ministro gosta de lançar aos portugueses, e que disso parece fazer gala, não são "dizer a verdade". São antes uma confissão pública da incapacidade técnica e política deste ministro.
Circula por aí uma história: este ano não há presépio. Vieram dois reis magos (Balatzar e Melchior) que construíram o presépio. Depois veio o terceiro - Gaspar - que levou tudo, e ficamos sem presépio.
Parece que é isso que está a acontecer.
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