1. Liguei a televisão e na TVI24 falava o anterior patrão (e mentor?) do atual primeiro ministro: Angelo Correia. Também anterior mentor de Luis Filipe Menezes, quando este pensava que tinha capacidade para liderar o PSD (e pelos vistos Angelo Correia também pensava que Menezes tinha essa capacidade).
Primeiro fiquei surpreendido. Pus a gravar. Depois compreendi que a entrevista talvez seja muito significativa, por aquilo que mostra de divergencias internas no PSD, de total esgotamento da credibilidade do governo e das políticas que tem seguido e do crescente afastamento de importantes barões do PSD relativamente a este governo. Basta atentar no que ele diz sobre a posição perante a Europa, sobre Durão Barroso e sobre o governo (e implicitamente sobre Passos Coelho).
Parece que já há muita gente a achar que é preciso saltar do barco, porque o naufrágio completo da política da austeridade na UE e em Portugal parece cada vez mais claramente visivel.
2. Extratos da entrevista, a propósito do famigerado relatório do FMI e das mais recentes declarações do primeiro ministro:
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Como é que é humanamente possível despedir 50 ou 100 mil pessoas em Portugal?
Se chegarmos a esse ponto (despedir essas pessoas porque não há dinheiro), então se chegarmos a esse ponto temos que ir á Europa a sério, e deixarmos de ser bons alunos e passarmos a ser antes reclamantes.
Se isso acontecer, temos que deixar de ser bons alunos. Ser bons alunos pode ter vantagens, mas tem uma desvantagem enorme: passam a olhar para nós como conformistas.
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Perante isto (despedir ou não cumprir com a troika) não devemos optar pela primeira opção, mas sim confrontar os lideres europeus com o falhanço das ideias e políticas deles.
Na UE, somos irmãos deles. É assim que tratam dos irmãos? É a angustia de descobrirmos que estamos ligados a uns cavalheiros e a uns Estados que têm por nós uma consideração nula.
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Como é que isso é possível? Aumentar 100 mil familias ao desemprego? Não podemos. O risco pior que corremos é pôr mais essas 100 mil familias no desemprego, não é não cumprir com a troika.
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(Temos que) rejeitar aquilo que o Dr Durão Barroso cinicamente anda a dizer, quando vem a Portugal, de que os Governos é que querem fazer isso (a austeridade), que não é uma imposição deles (UE). Como se ele, coitadinho, possa lavar as mãos, como Poncio Pilatos, de tudo aquilo que a Europa nos anda a fazer hoje em dia: é uma indecencia política e uma falta de honestidade. É totalmente uma falta de respeito para com o país. Não é crível, verdade ou sério dizê-lo. Há coisas que não são entendíveis!.
Este momento histórico também serve para outra coisa: perceber como se comportam algumas pessoas.
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O governo é totalmente omisso na visão estratégica. Politica e moralmente, o governo é obrigado a dizer-nos qual o rumo e a estratégia que pensa para o país. O governo tem que ter uma estratégia nacional. E não tem.
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