domingo, 5 de maio de 2013
Fora de serviço?
E, de repente, parece que os POS do Multibanco deste país estão todos a ficar fora de serviço nos restaurantes portugueses. Parece que nos cabeleireiros está também a aparecer uma epidemia semelhante. Fazendo algumas perguntas, rápidamente se conclui que ninguém espera que as maquinetas recuperem a saúde a curto prazo, ou mesmo médio prazo. Mas afinal as maquinetas estão bem, obrigado, e de boa saúde. O problema é outro.
Na realidade está em curso um colossal retrocesso da economia baseada nas transferencias digitais de dinheiro, ao nível dos consumidores finais. Depois do sucesso que foi a adopção dos meios electrónicos de pagamento em Portugal, está a dar-se a sua rejeição maciça pelos pequenos negócios e empresas, ou seja, nas transacções de mais baixo valor.
Na grande distribuição, um dos operadores já tinha tomado medidas radicais há alguns meses. Mas agora começa a ser difícil ir a um restaurante, ou a um cabeleireiro, e conseguir pagar com multibanco ou visa (ou mastercartd, ou ...). Estamos a regressar á economia do metálico, do cash, das notas e das moedas.
O processo, em curso, de liquidação dos pequenos operadores da restauração, tem duas causas importantes, para além da regressão do consumo no ambiente de crise. Uma é o brutal aumento do IVA, que foi quase todo (ou mesmo mais do que todo ...) a abater diretamente á margem do setor. O outro chama-se SIBS e as comissões verdadeiramente obscenas com que espolia os pequenos empresários e pequenas empresas.
Uma transação Visa tem uma comissão de cerca de 4 a 5% para um pequeno restaurante. Mas uma transação Multibanco tem uma taxa de quase 2% (!!!!!!). Ambas são gritantes exageros, só possíveis pelo regime de monopolio em que a SIBS opera. (Recorde-se que a única tentativa de interferir com esse monopólio foi feita pelo malfadado BPN).
Se se considerar que não há qualquer risco de crédito numa transação multibanco (operações a débito direto), e o baixo custo operacional de cada transação, é facil compreender o espantoso negócio que são as comissões sobre as operações multibanco de baixo valor. E como as "economias de escala" podem aqui ser importantes: as comissões dos grandes operadores, mesmo na restauração, podem ser 2 a 4 vezes inferiores ás de um pequeno operador. Ser pequeno tem hoje em dia um preço enorme, neste país. Com a margem "comida" pelo IVA, num mercado com uma procura a diminuir, evitar a comissão das transações electrónicas tornou-se uma necessidade imperiosa.
Os consumidores portugueses e as pequenas empresas portuguesas estão a pagar uma pesada fatura pela falta de concorrencia á SIBS, com uma baixa produtividade cuidadosamente protegida pela banca, o que criou um mercado fechado nas transferencias electrónicas de dinheiro. É por isso que sinto nauseas quando vejo o presidente da SIBS, que vive cómodamente instalado num mercado protegido e sem concorrência, a falar com enlevo sobre as ideias liberais. Ainda por cima o homem é conselheiro de Estado (!). Gostaria muito de o ver a gerir um restaurante popular (de preferencia sendo também o empresário).
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