terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Casas, habitação e recuperação da economia (USA)

Robert Reich (professor da Universidade da California, Berkeley) faz no seu blog uma análise interessante do papel em mudança da habitação para a classe média americana:
  • Homes morphed into automatic teller machines, as baby boomers used them as collateral for additional loans.
  • We are witnessing a fundamental change in the consciousness of Americans about their homes.
Sobre os últimos sinais positivos da economia americana comenta:
  • Businesses have been replacing low inventories and worn equipment. The richest 10 per cent, owners of approximately 90 per cent of the nation’s financial capital, have felt freer to splurge.
  • A strong recovery can’t rely on pent-up demand for replacements or on the spending of the richest 10 per cent. Consumer spending is 70 per cent of the US economy, so a buoyant recovery must involve the vast middle class.
O artigo completo foi também publicado pelo FT como texto de opinião: "Housing is the rotting core of the US economy"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Insónias e prejuizos

A verdadeira razão do stress de Horta Osório, e das suas insónias é agora bem visível : Jornal de Negocios diz que "Lloyds regista prejuízo maior do que esperado".
O tema aparece na imprensa internacional com grande enfase.  O WSJ titula: Lloyds Posts $4.41 Billion Loss in 2011:
  • The U.K. bank's loss, which was mainly in line with analyst expectations, leapt up from the £320 million net loss it reported in 2010, as the group shouldered nearly £10 billion in impairment charges for the year. Lloyds, which is 41%-owned by the U.K. government, posted a 2011 pretax loss of £3.5 billion, compared with a pretax profit of £281 million in 2010. 
  • The cut means that the average bonus per employee is down 24% to less than £3,900. The bank confirmed that Chief Executive António Horta-Osório asked not to be considered for a bonus for 2011. 
  • Mr. Horta-Osorio launched an ambitious overhaul of the bank when he took up his post in March last year, expediting the sale of the bank's 632-branch network as part of a wide-ranging asset-disposal program and instituted a broad cost-savings strategy. 
NYT:
  • Lloyds, based in London, said its net loss for last year was £2.8 billion ($4.4 billion), compared with a £320 million loss for 2010. The loss resulted from a £3.2 billion provision the bank made last August after it mis-sold payment protection insurance, which covered customers if they were laid off or became ill. OtherLast Monday, Lloyds also became the first bank in Britain to demand repayment of past bonuses because of losses that turned up later
  • Lloyds said it decided to retain 5 percent to 40 percent of the deferred share bonuses it awarded to the 13 former and current executives directors and managers for 2010, because had the provision related to mis-selling insurance been taken then, “the bonus pool would have been lower and individual bonus awards would also have been lower.”
Atualização, 19 setembro 2012: A crise de Horta Osório parece ter entrado na literatura sobre CEOs como um caso de referencia. Veja-se no FT, Fatigue and the all-too-human CEO.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O mistério da não visita presidencial

Os media continuam a falar da visita presidencial a uma escola e que foi abortada poucos minutos antes. O Expresso noticia este fim de semana que foi a segurança que fez abortar a visita. Se foi como o jornal conta, é incompreensível que os responsaveis pela segurança do Presidente não tenham sido demitidos. Como se compreende que só poucos minutos antes da visita e que se faça a avaliação local da situação? Como e possivel que não existissem observadores no local com antecedencia razoável? Alguém pode acreditar que a segurança do presidente só tenha chegado ao local e descoberto a existencia da manifestação alguns minutos antes?
Não parece convincente. Parece mais história posta a circular (de dentro da própria presidencia?).
Acontece que o Presidente se tem esforçado nestes dias por sugerir que não tem medo de manifestações, ou seja, que essa teoria afinal não bate certo. E ao mesmo tempo remete-se ao silencio.
E se tiver sido antes uma "urgencia" relacionada com problemas de saúde, particularmente incómoda e inconveniente no contexto da recepção turbulenta e menos simpática que lhe estava preparada?
A saúde do Presidente é cada vez mais objeto de especulações.

O que é preciso é uma reflação

Depois do post (deprimente) em que anunciava a partida para Portugal, Krugman publicou entretanto um novo post sobre a Europa
  • There are basically three stories about the euro crisis in wide circulation: the Republican story, the German story, and the truth.
A tese republicana é que o estado social é a causa dos problemas. A tese alemão é que são deficits excessivos por gastos a mais. Krugman refuta as duas teses com a ajuda de estatisticas. Sobre a "verdade":
  • What we’re basically looking at, then, is a balance of payments problem, in which capital flooded south after the creation of the euro, leading to overvaluation in southern Europe.
  • And the key point is that the two false diagnoses lead to policies that don’t address the real problem. You can slash the welfare state all you want (and the right wants to slash it down to bathtub-drowning size), but this has very little to do with export competitiveness. You can pursue crippling fiscal austerity, but this improves the external balance only by driving down the economy and hence import demand, with maybe, maybe, a gradual “internal devaluation” caused by high unemployment.
  • Now, if you’re running a peripheral nation, and the troika demands austerity, you have no choice except the nuclear option of leaving the euro, coming soon to a Balkan nation near you. But non-GIPSI European leaders should realize that what the GIPSIs really need is a general European reflation
O final da citação (e do post original de Krugman) parece apropriado para a próxima cimeira europeia.
Hoje mesmo o nosso PR se congratulou com a emergencia de uma outra corrente de opinião entre os lideres europeus (ver post anterior), que não da pura austeridade fundamentalista, mas virada para o crescimento - ao mesmo tempo que o PM desdenhava disso mesmo e o desvalorizava.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Krugman em Portugal (I)

Krugman avisa sobre uma redução de atividade no seu blog para os próximos dias, e anuncia a sua partida para Portugal. Será interessante de seguir.
Mas o post (Euro Agonists) em que o anuncia é deprimente, confessando que se fosse primeiro ministro de um dos paises europeus em crise dificilmente saberia o que poderia fazer nas circunstancias atuais:
  • It really is an agonizing position for all the troubled peripheral economies.
  • It’s not too hard to see what Europe as a whole — which, in practice, means the ECB and the Germans — should be doing: less demands for austerity, much more general reflation.
  • It’s much harder, however, to say what the leaders of such peripheral economies should do.
  • So there’s a kind of trap. If you imagine yourself as the Prime Minister of such a country, what can you do? For the most part, I’m afraid, you plead with the troika to make the austerity demands less severe, you do what you can to accelerate improving competitiveness (which isn’t much), and you wait for things either to get gradually better via “internal devaluation” or to get worse and provide the economic and political environment in which euro exit becomes a real possibility.
  • It’s a hell of a way to make economic policy, but I don’t see any magic bullets.
(Itálicos da minha responsabilidade).
Dito por  um keynesiano como Krugman, não é muito animador ...

Quem está errado ou certo?

Pedro Lains no seu blog (recentemente citado pelo WSJ):
  • A premissa do programa em curso de que a culpa foi da política, das mentalidades e de outras coisas dos modelos pouco explicativos e muito fáceis, está, simplesmente, errada. A "culpa" é do funcionamento de uma economia aberta, pobre e periférica, que precisa de financiamento externo para crescer - ou então não cresce -, e que está numa união monetária (ou próximo de uma união monetária, pois a Hungria também não escapou).
Isto a propósito do editorial do Jornal de Negócios, onde se dá um beneficio da duvida ao programa de reajuste estrutural e se diz:
  • Há demasiada gente a querer ficar na história, a ser o Ernâni Lopes desta crise, e a pressa humana pela estatuária é má conselheira.
  • O crescimento não está mais no Estado e nas suas Obras Públicas. Está nas empresas. Nas exportações. 

Não há escapatória possível?

Entrevista de Mário Draghi, presidente do BCE, ao WSJ.
Começa a manifestar-se uma bipolarização dentro da UE - e Draghi alinha-se completamente com a politica recessiva de Merckel, ao insistir que não há alternativa:
  • President Mario Draghi warned beleaguered euro-zone countries that there is no escape from tough austerity measures and that the Continent's traditional social contract is obsolete, as he waded into an increasingly divisive debate over how to tackle the region's fiscal and economic troubles.
  • He said Europe's vaunted social model—which places a premium on job security and generous safety nets—is "already gone," citing high youth unemployment; in Spain, it tops 50%.
  • Banks appear to have used a significant share of the three-year loans to buy back their own bonds coming due, Mr. Draghi said.
Note-se que o próprio Draghi assinala a forma preversa como as facilidades do BCE terão sido usadas pelo sistema bancário - como seria de esperar. Mas comenta o WSJ:
  • Mr. Draghi's contention that overhauls will offset the negative effects of austerity has also been met with some skepticism. Rooting out inefficiencies in labor markets or cutting government bureaucracies subtract from growth in the short run whatever the longer-term benefits, some economists say."He's just sugar coating the message," said Simon Johnson, former chief economist at the International Monetary Fund. "A lot of this structural reform talk is illusory at best in the short run…but it's a better story than saying you're going to have a terrible 10 years," he said.
  • The Greek crisis has laid bare many of the structural weaknesses in the setup of the euro, which is governed by a single interest-rate policy yet has no common finance ministry to steer money from rich countries to poor.
O argumento de Draghi é que as politicas de correção estrutural nos países em dificuldades estão a unir a UE e a construir uma União mais coesa. (Barroso disse algo parecido há poucos dias, o atual governo português certamente que apoia).
Mas o resultado mais previsivel, mesmo a médio e longo prazo, poderá ser que aumentar as desigualdades competitivas entre os paises da UE, reduzir a coesão e solidariedade interna da UE e, ao fim e ao cabo, conduzir antes à desagregação da UE, pelo menos com a geografia atual.
Cada vez fico mais curioso em ver o tipo de políticas pró crescimento que parece que se vão anunciar na próxima cimeira: na realidade tudo isto se está a transformar num grande duelo sobre incentivos e políticas keynesianas vesus não keynesianas (ou dos "economistas de água doce" versus "economistas de água salgada"). Ou será que nas circunstâncias do euro é impossivel aplicar medidas keynesianas?
Por outro lado parece começar a emergir uma "outra" visão dentro da UE: não é só o manifesto de Cameron (que pode ser um sinal bem mais importante do que os atuais politicos situacionistas querem admitir), mas é também a reunião ontem entre os lideres de Madrid e Roma. Uma pena que Portugal não saiba procurar nesse grupo as cumplicidades que a defesa dos seus interesses impõe.

(itálicos nas citações da minha responsabilidade).

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A fenix vai renascer mais cedo?

No mesmo dia lê-se um título no Jornal de Negócios online: "Portugal está a viver o pico da recessão que terminará no fim do ano", parece que baseado nas previsões da UE. Previsões que anunciam um quebra de 3.3% no PIB portugues durante 2012 (e de apenas 4.4% para a Grécia).
Noutro título da mesma página, o ministro das finanças anuncia que o "Ajustamento pode ser mais rápido e ter menos custos que o esperado", consequencia de um "programa bem desenhado".
Mas no mesmo dia lê-se um título no WSJ: "EU expects return to recession" (during 2012), onde se diz que
  • The euro-zone economy will fall back into recession at the start of this year and is now seen contracting in 2012 as a whole, the European Commission said Thursday.
  • The new forecasts will add to concerns about the impact of broad-based regional austerity plans. The 2012 forecasts for Italy, Spain and Greece were all slashed—each of them countries that are applying significant fiscal consolidation.
Com uma economia europeia a entrar em recessão, quando o impacto das medidas recessivas do tal programa "bem desenhado" ainda não se fizeram sentir cmpletamente a nível interno (espere-se pelo impacto do não pagamento do próximo subsídio de Natal, no público e em muito privado ...) e quando o impacto das dificuldades de financiamento bancário sobre o sector privado e as familias só agora se começam a fazer sentir (espere-se pelos despedimentos e pelas falencias que vai provocar e as consequencias disso ao longo de todo o corrente ano), é dificil imaginar como se antecipam melhorias substanciais para o próximo ano e se anuncia o fim da crise (ou pelo menos o príncipio do fim da crise) para o fim deste ano.
É fácil ver a espiral recessiva a formar-se (e os últimos dados anunciados confirmam-no), mas é difícil ver como é uma forte recessão interna num contexto de recessão externa pode ter as ambicionadas propriedades curativas para a crise, e quais os mecanismos que podem fazer a fénix renascer das cinzas.
Ou será que com o argumento de mobilizar a opinião pública, se entra pela propaganda? Onde é que eu já ouvi isto?

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Crise, crescimento ou contração

No The Economist:
  • In the euro’s first decade, southern Mediterranean countries enjoyed the benefit of lower interest rates, but they failed to reform their labour and product markets to make their economies more competitive for a world in which they had lost the safety-valve of currency devaluation.
  • The crisis is, in effect, moving from an acute to a chronic phase
Krugman no seu blog:
  • The truth is that we’ve just had a powerful test of the Keynesian proposition that when monetary policy isn’t available, changes in government spending move the economy in the same direction – and the results of that test say that what has lately passed for policy wisdom is instead almost criminal folly.
O post de Krugman tem um título elucidativo: "Austerity and growth. Or, actually, shrinkage"

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

As ligações perigosas

O presidente da Alemanha resignou. O Guardian resume a questão:
  • They said they had "factual indications" of Wulff's long-suspected improper ties to business executives
Que Merckel venha defender o homem, já com uma historia de situações dúbias, não lhe aumenta o seu crédito moral nestas circunstancias. Basta recordar a defesa que na altura fez do ministro que teve que se ir embora por ter falsificado uma tese de doutoramento. Esta falta de dimensão moral e ética da chanceler é visivel na sua (desastrada) liderança da crise do euro.
As "ligações empresariais" são o calcanhar de Aquiles dos políticos. Por falar nisso, mais cedo ou mais tarde chegará a altura de virem a público as "long-suspected improper ties to business" de alguns dos mais importantes governantes atuais, e muito em especial dos seus mentores.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Inovação: protótipos e comunidades de utilizadores

A construção da comunidade de utilizadores de uma inovação - a importancia da formação de utilizadores, e de interação entre utilizadores e inovador, num post de M. Schage (itálicos da nossa responsabilidade): 
  • Getting great value and insight from prototypes and pilots is more an art and craft than a science. Successful tech prototyping in health care contexts is particularly demanding.
  • Whenever innovators gather, I always listen for what's not discussed.
  • I heard not a single mention, reference or allusion to the challenge of training the people onsite on how best to use or learn from the prototype.
  • In other words, you can't meaningfully budget, schedule and iteratively improve prototypes without literally and figuratively accounting for their users.
  • The great German General von Moltke once observed that, "All plans evaporate on contact with the enemy." For serious innovators, that aphorism becomes, "All prototypes evolve on contact with the user."

Um espiral deflaccionária construída por políticas recessivas

Comentário no blog Charlemagne do The Economist, sobre a ultima cimeira europeia:
  • ... main aim (is) the imposition of balanced-budget rules on members. This may be a useful discipline in good times. But many worry that, at a time of widespread crisis, such pro-cyclical rules risk imposing too much austerity too widely, thus darkening the spectre of recession and making it even harder to balance budgets. This may explain why leaders suddenly want to be seen talking about their plan (declaration is here in PDF) for growth and jobs, particularly in tackling the problem of youth unemployment.
  • “It is an important distraction”, says one diplomat. “It has gone from damaging to merely useless,” says a member of the European Parliament. 
  • But spreads on Portuguese bonds are rising to alarming levels, and the outlook for Italy and Spain is still wobbly.
(Itálico da nossa responsabilidade)

Abriu-se a caixa de Pandora?

NYT, "In Europe, stagnation as a way of life"
  • As part of Greece’s bailout deal, moreover, banks may agree to take up to a 70 percent loss on their holdings of Greek bonds. That is something Ireland and Portugal have said they want to avoid demanding of their own private creditors, so as not to frighten off investors when those countries eventually start borrowing in international markets again.
  • But that stance is not so popular with citizens. Enda Kenny, the Irish prime minister, said this week that, unlike the Greeks, he had no plans to press losses on banks holding Irish sovereign debt. Such talk has inflamed many Irish taxpayers, who have had to shoulder the banks’ bad debts.
  •  If Ireland asked for write-offs from lenders like those for Greece, it could pave the way for similar demands from Portugal and perhaps larger debtor countries like Spain and Italy.
  • “The Pandora’s box has been opened for Ireland and Portugal,” and possibly for other countries, Mr. Weinberg said. “We don’t know where this goes.”
(Our italics).

Solidariedade europeia?

Sobre a solidariedade europeia:
- quando em 2003 a Alemanha, e a França, ultrapassaram os limites do deficit e ameaçaram a estabilidade da comunidade, esta mostrou solidariedade e nunca exigiu o empobrecimento da Alemanha
- quando em 2011 a situação se inverte, inverte-se também a solidariedade europeia, que passa a antagonismo e castigo (os parvos da Europa do Sul, que gastaram mais do que deviam ...).
Mesmo que a Alemanha tenha sido um dos grandes beneficiários dessa situação, e tenha também uma elevada quota de responsabilidade sobre o "colossal" erro de concepção do euro como moeda única de um espaço não federal.
Se isto é assim nestas circunstancias, que solidariedade se pode esperar ao nivel da defesa num caso de emergência? E da solidariedade social?
O que se está a passar faz arrepios ne espinha a qualquer europeista.
Que os lideres políticos (incluindo a atual liderança de Portugal) sejam incapazes de navegar o projecto europeu, é uma vergonha geracional que o futuro julgará.