A minha análise dos resultados das ultimas eleições (*), porventura pouco convergente com o que muitos analistas têm dito:
1. O voto de protesto poderá ter sido da ordem dos 20%: crescimento do PS e da CDU, MPT, crescimento de brancos e nulos, e mesmo de outros pequenos partidos, perda de votos da coligação no poder. Admito que estamos perante um novo xadrêz politico que poderá ser irreversivel - e por isso o quadro conceptual de análise terá que ser diferente.
2. A abstençao terá sido menor do que o costume, mas isso foi escondido pelo aumento da abstenção dita "técnica", que estará entre os 10 e 15%, pelo menos, dos eleitores registados, agravada pela saida de perto de 3% da população (emigração) nos ultimos anos. Como seria de esperar, a redução da abstenção foi canalizada para o voto de protesto.
3. Boas noticias: as hipóteses de governabilidade parecem ter melhorarado. Não é isso que muitos dizem, mas é o que me parece razoavel inferir. Talvez a coisa esteja algo empatada, segundo os resultados destas ultimas eleições, como diz Marcelo - assumindo com isso que ele é que poderia ser a "silver bullet" presidencial que poderia desempatar. Com base nestes resultados, se estas eleições tivessen sido legislativas (ver aqui) não seria possivel constituir maiorias sólidas. Mas isso ignora que estes resultados abriram as portas a novas soluções que é razoavel antecipar como muito possiveis nas próximas legislativas. Na dinamica de novas eleições legislativas, uma parte dos votos de protesto deverão voltar ao PS - mesmo que o MPT consiga converter-se num movimento politico consistente, o que não é de excluir e é mesmo muito possivel que aconteça.
4. Ao contrário daquilo que o BE e o PC sempre fizeram, nem o MPT nem o Livre parecem ter por vocação o "orgulhosamente sós" que tem caraterizado o comportamento politico do PC e do BE. O facto dos votos do MPT e do Livre não serem neste momento suficientes para uma coligação com maioria absoluta com o PS não significa que não o possam ser nas próximas eleições, até porque a diferença atual para tal é inesperada e surpreendentemente pequena. Visto assim, os resultados destas eleições parecem dizer que:
- o comportamento da direção do PS foi considerada inadequado e insuficiente como protesto reativo e como combate politico contra o governo da coligação e contra as politicas de austeridade sem reforma do estado e da economia
- mas o voto de protesto foi canalizado para novos veiculos partidários, nas franjas atuais do sistema politico e partidário, mas dentro dele, e que em principio sugerem expectativas positivas para a formação de consensos à esquerda. Essa será a grande novidade (finalmente?). Afinal os portugueses parecem sugerir que pretendem consensos partidários, mas dentro da linha de mudança da atitude europeia e da politica de austeridade, e pretendem que esses consensos que materializem nas zonas da esquerda democrática.
5. Tudo indica que o grande perdedor tem sido o CDS, que poderá estar agora reduzido a menos votantes do que o novo MPT, e até talvez mesmo não mais do que o novo Livre - pelo menos enquanto que coligado.
5. Por isso esta nova dinamica poderá vir a ser muito incomoda para o PC ou CDU: apesar de todos reconhecerem que é um dos vitoriosos destas eleições, neste novo cenário o isolacionismo sistemático poderá deixar de render as boas "rendas" que tem rendido de forma sistemática. Curiosa a posição de Jerónimo de Sousa, a reclamar de imediato um lugar em qualquer solução de esquerda, mesmo aceitando que afinal a CDU não a pode conseguir só por si.
5. E o futuro sem futuro do BE parece definido. A ideia que o regresso de Louçã para salvar o BE parece pouco credível - a menos que faça uma pirueta política e se abra a coligações de esquerda e a sujar as mãos na governação. Afinal foi o chumbo do PEC IV e do anterior governo, a aliança suicida do BE com a direita de Portas e Passos Coelho para o derrube de Socrates, que abriu as portas á troika e que acelerou a morte a prazo do BE. Os resultados do BE e do Livre em Lisboa são mesmo muito esclarecedores.
6. MPT e Livre foram as boas noticias destas eleições. Assim saibam sobreviver, para bem da democracia portuguesa. A história do PRD (lembram-se?) pode ser muito edificante e util de ensinamentos ... tanto para Marinho Pinto como para Rui Tavares.
(*) escrito antes de ser conhecida a candidatura de António Costa. A sua eventual liderança do poderá reforçar o "momentum" do PS e assim reduzir um pouco a importancia das novas forças políticas emergentes, mas acima de tudo criaria condições mais favoraveis para consensos á esquerda, envolvendo essas forças.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
terça-feira, 27 de maio de 2014
Gordo, anafado e balofo
Cada vez mais gordo, anafado, balofo, foleiro e vazio de ideais, já todos perceberam que Barroso vai sair da Comissão da UE pela porta mesmo muito pequena do palco europeu. Infelizmente para todos nós, europeus em geral, europeus do sul em especial, e portugueses em particular.
Em Sintra, Barroso apenas terá reforçado a sua mediania provinciana (da "provincia" longinqua de Bruxelas). Pois, afinal a culpa afinal não é nem da UE, nem do euro, nem das politicas estúpidas de austeridade, mas sim dos estados que não resolvem o problema do desemprego. Está tudo dito: afinal foram esses estúpidos (leia-se, os governos de Espanha, Portugal, Grécia, Itália, ...) que criaram desemprego porque foram incompetentes a ... aplicar a austeridade hortodoxa (mais do que hortodoxa, no mais que infeliz caso portugues).
Vale a pena ler o comentário de Paul Krugman (aqui):
Em Sintra, Barroso apenas terá reforçado a sua mediania provinciana (da "provincia" longinqua de Bruxelas). Pois, afinal a culpa afinal não é nem da UE, nem do euro, nem das politicas estúpidas de austeridade, mas sim dos estados que não resolvem o problema do desemprego. Está tudo dito: afinal foram esses estúpidos (leia-se, os governos de Espanha, Portugal, Grécia, Itália, ...) que criaram desemprego porque foram incompetentes a ... aplicar a austeridade hortodoxa (mais do que hortodoxa, no mais que infeliz caso portugues).
Vale a pena ler o comentário de Paul Krugman (aqui):
- Sitting in a room listening to EU officials reacting to the European Parliament elections — and it seems to me that they’re deep in denial. Barroso just declared that the euro had nothing to do with the crisis, that it was all failed policies at the national level; a few minutes ago he said that Europe’s real problem is a lack of political will.
- Sorry, but depression-level slumps didn’t happen in Europe before the coming of the euro. And we know very well what happened: first the creation of the euro encouraged massive capital flows to southern Europe, then the money dried up — and the absence of national currencies meant that the debtor countries had to go through an extremely painful process of deflation. How anyone could deny any role for the currency …
Menos austeridade, mais deficit, mais reforma e mais tempo teriam ditado outros futuros para a europa do sul, embora porventura menos proveitos para a europa do norte:
- And if there’s one thing Europe has, it’s political will. All across the southern tier, governments have dutifully imposed incredibly harsh austerity in the name of being good Europeans. What should they have done that they haven’t?
- I guess the notion is that if the Greeks, or the Portuguese, or the Spaniards really, truly committed their all-powerful wills to reform and adjustment, their economies would boom despite deflation and austerity. The possibility that things are so bad — and radicals have been empowered — because the policies are fundamentally misguided just doesn’t seem to be considered.
- The European story remains one of deeply destructive economic policies, which have inflicted vast harm — but have not led to unraveling, because the political cohesion of the euro is stronger than people like me realized. The cohesion is a good thing, I guess, but the policies still aren’t working.
ATUALIZAÇÃO (31 de maio de 2014):
Paul Krugman divulgou no seu blog no NYT a apresentação feita na reunião do ECB em Sintra: ver aqui. Não terão sido apenas os comentários de Krugman sobre a UE e Barroso que terão deixado amargos de boca nalguns. Na sua intervenção Krugman pôs acima de tudo em dúvida aquilo a que chama "mysterious doctrine of 2%", ou seja, os fundamentos e a bondade dos numero mágico de 2% como "target" da inflação na zona euro, um dos fundamentos mais importante da política e do mandato do ECB. Krugman recorda os tres argumentos tradcionais a favor, rejeita dois e duvida do terceiro:
No final Krugman confronta-se explicitamente com as palavras de Draghi, quando este afirma não ver sinais de deflação na zona euro, e fala de um "timidity trap" que está a minar a zona euro.
- 1. ZLB episodes regarded as unlikely at that rate
- 2. DNWR regarded as unlikely to be seriously binding
- 3. Price stability advocates offered a measurement fig leaf
- We now know that 1&2 not true. But also good reason to fear a low-inflation trap, so that there is option value to reducing the odds of falling in
ZLB refere-se ao "zero lower bound" caracterisitica da situação de procura agregada insuficiente, associada à "low inflation trap" (como acontece atualmente na Europa e em Portugal) e DNWR é a sigla de" downward nominal wage rigidity", a dificuldade estrutural de reduzir os salários nominais em termos significativos (Portugal é um contra exemplo recente). |
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